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A fundação do jornalpor José Matos Vieira*
No ano de 1969, passei a pensar na fundação de umjornal nesta cidade, tanto que em 20 de novembro do mesmo ano, escrevi ao Helius de Monção, nos seguintes termos:
Imperatriz, 20 novembro de 1969.
Meu grande amigo Helius,
Helius, tenho a te contar que de certo tempo a esta data, ando pensando muito na fundação de um jornal nesta cidade sob tua direção e responsabilidade. Para isso, te faço logo convite e ficaria grato se tume respondesses logo. Este desejo que tenho, sem vaidade pessoal, é somente para servir na divulgação desta boa terra que só me tem servido de melhoras, principalmente na parte financeira.
Apesar de não estar rico, me considero numa situação bem melhor do que aquela que vivia aí. Como tu sabes, só dessa maneira posso retribuir a Imperatriz, aquilo que ela me propiciou.
Imperatriz, Helius, é uma cidade que cresce assustadoramente e necessita de um órgão de divulgação, o que, até o momento, não tem. Não temos um jornal, uma emissora de rádio...A cidade está precisando de tudo. Mas, que Imperatriz merece, merece. Aqui temos elementos com capacidade, mas a maior parte é gente ocupada e eu preferiria, no caso, a pena do Helius de Monção, já que trabalhamos juntos e nos entendemos muito bem. Embora eu não tenha a capacidade necessária, a cultura exigida, tenho muita determinação e o material necessário para a realização desse plano em foco.
Este ano teremos eleições para prefeito e tudo indica que o vencedor será Renato Moreira, elemento digno e capaz. Ainda mais: a cidade está recebendo asfalto nas principais ruas e já temos água encanada.AEmbratel está construindo torres de microondas nas proximidades e segundo os entendidos, teremos imagem de televisão por intermédio dela. Convido-te a entrar comigo nessa corrida de progresso, com o jornal fazendo parte da evolução cultural.
Ficarei aguardando, com bastante ansiedade, uma resposta de tua parte.
As eleições se realizaram e o candidato Renato Moreira foi eleito prefeito da cidade. A partir daí passei a me interessar mais pela circulação do jornal, sem, no entanto encontrar pessoas interessadas a entrarem comigo nesse empreendimento. Helius, empregado na empresa Transporte Harmonia, tinha medo de deixar o emprego em Goiânia e não parecia disposto a trocar o certo pelo duvidoso.
Como eu já vivesse falando deste meu sonho, os companheiros do Rotary passaram ame cobrar pelo jornal, diariamente.Um dia, o prefeito Renato Moreira, que era rotariano e pessoa pública interessada na instalação do jornal, prometeu-me arranjar um redator.
Não demorou muito, Renato apareceu lá na minha tipografia, acompanhado pelo advogado provisionado Jurivê de Macedo. Apresentou-o a mim. Houve os cumprimentos iniciais e o seguinte diálogo:
O senhor já trabalhou em algum jornal? Onde?
No Jornal de Esporte, em São Paulo.
Se atreveria escrever para nosso jornal, assuntos variados e independentes?
Atrevo-me.
Já que é advogado, deve ter muitos compromissos lá com sua profissão. Quanto quer ganhar por mês para assumir a chefia da redação do jornal?
Isso, depois a gente acerta. Como será o nome do jornal?
O Progresso, e quero começar logo.
Não vejo qualquer problema.
Como não nos conhecíamos, a curiosidade de ambas as partes era grande. Contudo, a idéia fixa de lançar um jornal, tornávamos inconseqüentes, caso houvesse algum entrave. Eu não conhecia o estilo de redação dele, mas, mesmo assim, resolvi aceitá-lo. Afinal, talvez tivesse mais ele a perder, do que eu. Se não der certo, pensei, procurarei outro. O negócio é começar, nem que muitos outros tenham de se suceder. E lá na manga, o meu trunfo infalí- vel: o Hélius de Monção. Com certeza, havendo mesmo necessidade, ele não me deixaria em dificuldade.
Pois bem, não foi preciso procurar outro. A partir daquele momento, o candidato entrou em ação. Providenciou o registro do jornal em cartório, começou a fazer matérias, perguntou-me se era eu quem ia escrever o artigo de apresentação. Respondi-lhe que isso era responsabilidade do redator-chefe. Ele disse: não tem problema e escreveu, no dia seguinte, o editorial. Mostrou-me, li e gostei imensamente. Estava aprovado. Sugeri o título e ele concordou: Nossa Caminhada.
Eis o texto:
Este lançamento é o início de uma caminhada, que desde há muito tentamos iniciar, mas que sempre foi obstaculizada pelas dificuldades decorrentes da falta de recursos materiais e até pelos oráculos do insucesso, que sempre viram em nossa frente, o desfilar incessante de obstáculos intransponíveis.
Ao longo do nosso caminho até aqui, muitos sonhos já se desfizeram, sepultados pelo desânimo, para ressurgir a seguir, vestidos da mais rósea promessa de sucesso.
Muitos planos já foram abandonados ante a avalanche da descrença de uns, do temor de outros, da indiferença de alguns e até de insinuações desencorajadoras. Felizmente, entretanto, mãos amigas também vieram até nós com o calor de seu estímulo, com o apoio amigo.
Chegamos até aqui, que não é ainda a nossa meta. É nossa aspiração fazer deste nosso noticioso, um instrumento a serviço da coletividade de que somos parte. E que, através de O PROGRESSO , possa a voz de Imperatriz fazer-se sentir em outros rincões, para novos rumos e novos empreendimentos, estuante da vida, marco de transmissão entre o marasmo que ficou sufocado pelas máquinas que rasgaram a Belém-Brasília e os horizontes que se descortinam ante os olhos de uma geração que surge.
Dentro de uma linha de decência, de coerência, de respeito, é nosso propósito levar a todos, a nossa mensagem de fé no trabalho de um povo que, só agora, nasce para o Maranhão e para o Brasil.
E que, em retribuição, possamos receber a aceitação desse povo, que esse é o nosso propósito. Se tivermos a alegria de fazer de O PROGRESSO, o veículo de que se servirão, unidos, Governo e povo desta terra, para a grandeza da mesma, estaremos, então, sobejamente compensados, não apenas pelas dificuldades que enfrentamos, mas até pelas que hão de vir, pois só a luta faz grande a conquista.
No dia três de maio de 1970 saiu às ruas, sem festa nem alarde, o jornal da terra, OPROGRESSO. A escolha deste nome foi em decorrência do desenvolvimento acelerado em que a cidade se encontrava.
Além de matérias produzidas pelo redator-chefe, houve colaboração dos bancários Dorian Menezes e Luiz HenriqueVeras, que, sob o título: IMPERATRIZ, O QUE FOI E O QUE É: forneceram dados estatísticos sobre o desenvolvimento acelerado de Imperatriz.
Inicialmente, o jornal composto à mão, mas bem apreciado pela população, circulava apenas uma vez por semana. Não demorou para ultrapassar nossa restrita fronteira. Em Marabá chegou a atingir 200 assinaturas e em Carolina mais de 50, circulando simultaneamente no mesmo dia, graças ao espírito solidário do agente da Varig, Licínio Cortez. Enviava pela manhã para Carolina no vôo que ia para Teresina. Quando voltava, às 15h, com o destino a Belém, entregava os jornais em Marabá. Esta preferência nos encheu de entusiasmo, chegando ao ponto de se pensar em uma offset.
A Cia. T. Janer, de Belém, especialista em vendas de máquinas gráficas, mandou-me um representante com todos os prospectos, preços e facilidades de pagamentos. Fomos ao banco do Brasil para ver a possibilidade.
O gerente Wallace entusiasmou-se dizendo que o meu cadastro comportava fazer a operação e que eu podia comprar. Ele daria todo o material de expediente da agência para ser feito em Imperatriz contanto que o preço fosse igual ao do Rio de Janeiro, mais o frete.
Fiquei pra decidir depois da exposição, que aconteceria em São Paulo, dois meses mais tarde, emjulho de 1973, no Centro de Convenções do Anhembi. Na época estive lá, indo direto para o estande da T. Janer, onde se encontravam as máquinas. Fiquei louco para comprar, mas tive de passar por um sistema de pesquisas sobre minha cidade e adjacências, solicitadas pelo diretor de vendas que, no fim, aconselhou-me a não fazer o negócio. Disse-me mais:
Nem a capital de seu estado possui offset, seu Vieira. Eu estou aqui pra vender, não para prejudicar clientes.
Conformei-me e desisti. Passei a pensar em uma linotipo. Enquanto não me decidia, o jornal circulava normalmente, sem interrupção. E o redator sem se definir com relação ao salário; só emitindo vales no fim de cada semana, apesar da minha insistência.
E assim se passaram semanas, meses e quando eu falava sobre o ordenado, a resposta parecia decorada:
Depois a gente acerta. Me dá um vale aí.
Eu dava. Passou o primeiro ano, o segundo e nada do homem se decidir. Parecia não querer ter vínculo empregatício, então, resolvi admiti-lo como sócio fictício, quer dizer, sem entrar com capital.
Como se tratasse de uma pessoa competente, humilde e que nunca deu motivos para aborrecimentos como profissional, nada melhor do que uma promoção. Então, como eu pretendia estruturar e ampliar o jornal como empresa, adquirindo capital que influísse no seu melhoramento, com sócios capitalizados, criei a Empresa Jornalística O Progresso Ltda. Dois sócios, Sr. João Viana e Reginaldo Amorim foram admitidos, mas demoraram pouco tempo, porque a empresa não dava o lucro que imaginaram.
* José Matos Vieira, tipógrafo e empresário aposentado; fundador de O Progresso. Texto extraído do livro Lutas, fracassos e vitórias: memórias, do mesmo autor (Ética: Imperatriz, 2008).
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