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Prédio-fantasma, acarajé de Itaguaí e o sinais da retomada

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Esta semana, uma grande imobiliária do Rio de Janeiro convocou, por telefone, uma parte de seus clientes para “tratar de um assunto do seu interesse”.

Eram compradores de apartamentos, lançados ano passado, na Tijuca, num empreendimento voltado para a classe média e no “facilitário”: aceitavam até meros 8% do valor de entrada.

Nas reuniões, a crua realidade: não tem mais prédio, não tem mais lançamento, sobraram só os folhetos coloridos. Vão devolver a entrada e as prestações.

A razão? Não venderam mais que 10% dos apartamentos e por isso a construção não tem mais viabilidade econômico-financeira.

Repetindo: só venderam um em cada dez apartamentos.

Esta é a situação da economia brasileira, que é pior, muito pior, para quem não tem quase nada. No caminho, ouvia uma reportagem de Júlia Faria, na CBN, sobre a multidão de milhares de pessoas que, desde a manhã de domingo, se aglomeraram em frente á Secretaria de Educação de Itaguaí, na Baixada Fluminense, atrás de vagas temporárias e trabalho, por salários entre R$ 797 e R$ 1.395.

Um das mulheres – a maioria entre os desesperados – com que Julia conversou, buscava uma vaga de merendeira, porque cozinha. Faz acarajés, e vivia disso, vendendo, diz ela, uns vinte por dia. Agora, só vende cinco.

Fila em Sorocaba por duas vagas. Foto: Reprodução, Tijolaço

Na próspera Sorocaba, ainda pior: 700 pessoas disputando apenas duas vagas numa fábrica de tapetes.

Esta é a economia real, não a dos “sinais positivos por toda a parte”que os sábios enxergam por toda parte , há meses.

Aliás, nem eles enxergam, “nas encolhas” como mostra o site Poder360, revelando os estudos internos do Ministério da fazenda que apontam nova queda do PIB (-1,1%) em 2017.

Publico ao final do post o gráfico do IBGE, recolhido e anotado pela economista Laura Carvalho. A estabilidade pelo arrocho de Joaquim Levy foi mais bruta, mas igual à que fazem.

A “enxurrada de dólares”, os “investimentos de montão” que viriam com o impeachment estão aí retratados na taxa de investimentos do PIB, que os técnicos chamam de Formação Bruta de Capital Fixo, que caiu mais de 10% em 2017 e 26% no último triênio, a “Era Sérgio Moro”.

Empresário algum vai por dinheiro para “morar” num país sem estabilidade política ou projeto econômico. Só mesmo para ganhar com a arbitragem dos juros externos x juros internos e para comprar patrimônio na bacia das almas.

A economia real, a dos seres humanos, é a do prédio que não subiu e a da baiana que viu o acarajé encalhar e madruga na fila para disputar um emprego que, infelizmente, tem poucas chances de conseguir.

Fernando Brito, Tijolaço
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