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Testemunhas desmontam o caso do triplex

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Em fase de audiências de testemunhas, o juiz Sérgio Moro, da Vara Federal de Curitiba, ouviu nesta segunda-feira (13) outros depoentes do caso do triplex do Guarujá. A exemplo do que ocorreu até agora, todas as testemunhas desmontaram a denúncia da Lava Jato contra o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

A Moro, a defesa de Lula afirmou que o questionário ao ex-presidente da Petrobras, José Sérgio Gabrielli, eram "perguntas de um inquisidor, e não as perguntas de um juiz". Os advogados interromperam o magistrando quando ele estava induzindo a testemunha a afirmar que a escolha da diretoria internacional da estatal, em 2008, foi uma indicação política. Mas Gabrielli apenas afirmou que foi uma decisão do Conselho Administrativo e que lá não se discutia questões partidárias.

A atuação de Moro teve início quando Gabrielli negava as teses dos investigadores da Lava Jato de Lula teria influência no esquema de corrupção. Contou que a uma reestruturação já estava sendo pensada na Petrobras e que ficou sabendo que a indicação de Jorge Zelada por Nestor Cerveró era do PMDB apenas por meio da imprensa. Mas Moro insistiu:

Advogado: Há um limite excelência.
Moro: Eu estou fazendo as perguntas.
Advogado: Vossa excelência está insistindo.
Moro: Eu estou fazendo as perguntas, doutor. Não estou induzindo a testemunha.
Advogado: É a quinta pergunta. Ele já respondeu.
Moro: Eu ouvi pacientemente as perguntas da defesa e do Ministério Público, eu estou fazendo as minhas perguntas. Certo?
Advogado: Mas as suas perguntas são as perguntas de um inquisidor, e não as perguntas de um juiz.
Moro: Doutor, respeite o Juízo.
Advogado: Vossa excelência respeite então a ordem processual.
Moro: respeite o juízo.

Em seu relato, o ex-presidente da estatal falou sobre a construção da Refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco, e disse que as conversas que teve com Lula foram "sempre no plano da importância da Petrobras para o Brasil", com o objetivo de "ter a melhor gestão possível para alcançar os objetivos definidos".

Ressaltou o governo do ex-presidente para o avanço econômico da companhia: "afirmou que a Petrobras teve um crescimento exponencial durante o governo Lula e que a Laja Jato comprometeu a operação e a saúde financeira da empresa. Afirmou que a companhia, após a venda das ações em 2000, apurou seus mecanismos de controle, dispondo de um Conselho de Administração, auditoria interna e externa, ouvidoria e segurança interna", relatou em nota a defesa de Lula.

Gabrielli também negou que o ex-diretor de abastecimento da Petrobras, Paulo Roberto Costa, tenha acordado com o ex-presidente Lula em desvios de valores. "[Paulo Roberto Costa] não demonstrava nenhum comportamento que ele veio a confessar. Era uma pessoa pacata, cumpridora de seus deveres e não demonstrava nenhum comportamento ilícito, como veio a confessar", disse.

A mesma manifestação foi em relação a Nestor Cerveró: "Acho que ele dificilmente teria acesso ao Lula. Nunca mencionou nenhum contato com Lula", disse Gabrielli, que repetiu as mesmas palavras sobre uma relação de Pedro Barusco e o ex-presidente. Por fim, ao mencionar sobre influências políticas na escolha de diretores da Petrobras, o ex-presidente da companhia citou que isso ocorre desde a fundação da empresa, em 1953.

Além de Gabrielli, também prestaram depoimento o ex-ministro de relações institucionais do governo Lula, Jaques Wagner. Ele detalhou sua atuação na equipe ministerial da gestão petista e disse desconhecer origens ilícitas para a suposta manutenção de Lula de sua base parlamentar, como sustentam os investigadores no processo.

"À exemplo do ex-Presidente Fernando Henrique Cardoso (9/2), Gabrielli e Wagner, em seus depoimentos, mostraram que a ampliação da base aliada parlamentar no governo Lula seguiu exatamente os mesmos parâmetros de outros governos", narraram os advogados de Lula.

Do lado da OAS, foram ouvidas testemunhas do ex-presidente da área de Investimentos, Fabio Yonamine, que também é réu na mesma ação penal. O administrador de empresas da construtora, Daniel Cardoso Gonzalez, disse que "nunca presenciou nada do tipo" sobre o triplex ou a reforma que supostamente era destinada a Lula em troca de favores.

O advogado Adriano Cláudio Pires Ribeiro, da área jurídica da construtora de 2007 a 2013, ainda negou saber que um triplex no Guarujá seria entregue a Lula por troca de favores ou vantagens indevidas. Tendo atuado no setor, detalhou toda a operação financeira feita pela OAS para assumir os empreendimentos da falida Bancoop, com análises de viabilidade jurídica, as possibilidades de rentabilidade da construtora.

Também desmontou toda a denúncia contra Lula, ao afirmar que a falecida esposa de Lula, Dona Marisa, não optou pelo empreendimento, e que à OAS essa escolha não interferia, uma vez que já havia preenchido 90% de consentimento dos demais compradores, garantindo assim a sustentabilidade da construção do edifício. Confirmou que a relação dos cooperados era com a Bancoop e não com a OAS, podendo receber o dinheiro investido de volta.

"Esse depoimento se soma a outros já prestados para mostrar que é fantasiosa a acusação do Ministério Público Federal de que D. Marisa teria comprado uma cota da Bancoop, em 2005, já sabendo que a OAS iria assumir o empreendimento Mar Cantabrico (atual Solaris), em 2009, e iria lhe entregar uma unidade diversa daquela relacionada à sua cota e às contribuições por ela realizadas", informou a defesa de Lula em nota.

Outra testemunha, o engenheiro da OAS empreendimentos desde 2010, Genésio da Silva Paraíso, e que cuidou dos pagamentos à Talento - empresa que fez a reforma no apartamento 164-A, apontado pela Lava Jato como do ex-presidente e da ex-primeira-dama -, disse que o contrato foi de procedimento padrão, sem irregularidades.

Genésio confirmou que as reformas foram feitas quando o ex-presidente surgiu como possível cliente do empreendimento, mas negou que ocorreram com ilegalidades. Também afirmou nunca ter ouvido falar de um caixa geral de propinas na OAS, destinada a isso.
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