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A Odebrecht não se arrependeu, fez negócio com o erro

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Empresas, ao contrário de pessoas, não têm sentimentos, moral ou princípios ou, ao menos, nenhum outro que não seja o lucro..

Estes são atributos dos seres humanos, não de organizações empresariais.

Empresas têm interesses e, conforme as condições, estes interesses podem coincidir com o respeito a valores éticos e procedimentais.

Ou, pelo menos, dizer que aderem a eles e fazer o possível para que isso não vá por água abaixo.

Nem sempre, aliás.

Não há neste acordo da Odebrecht, um arrependimento, que é exclusivo de pessoas, há um negócio, que é próprio de empresas.

A liberdade ou penas menores para seus dirigentes foi, literalmente, comprada com recursos da empresa.

Hoje, após assinado o acordo de leniência, pelo qual seus atos de corrupção – os que quis confessar – serão perdoados ou pagos com generoso desconto, a Odebrecht prepara um comunicado.

Que, certamente, será publicado em caros e destacado anúncio nos grandes jornais, inclusive O Globo, dizendo:Desculpe, a Odebrecht errou.

O que acaba por trazer à mente uma comparação.

Quando a ditadura de 64 chegava perto de completar 50 anos, no final de 2013, as Organizações Globo publicaram um mea culpa: Apoio editorial ao golpe de 64 foi um erro.

Um erro?

Não, um crime, em ambos os casos.

E, em ambos os casos, crimes que custaram muito caro ao povo brasileiro. Em dinheiro, no primeiro caso; em liberdades, no segundo e, em ambos, em estabilidade de suas instituições democráticas.

Pode-se argumentar que, ao menos, a Odebrecht pagou R$ 6,8 bilhões ao Brasil, aos Estados Unidos e à Suíça.

Não se sabe exatamente para quem irá esta “bolada” e espera-se que o Ministério Público não abocanhe um naco, porque não é o que compete ao servidor ou ao órgão público.

Não se lê na nota da Odebrecht, porém, qualquer pedido de desculpas às dezenas ou centenas de milhares de empregos que, nela e em suas subcontratadas, p que seria natural, porque foram pessoas que deram à empresa seu trabalho e hoje estão na rua.

Como não se viu, no da Globo, desculpas aos mortos, aos perseguidos, aos torturados, aos filhos sem pais e aos brasileiros sem voto durante 25 anos.



Políticos e dirigentes que participaram destes negócios escusos têm de ter penas justas, que não sejam dimensionadas pela vingança.

Empresários e executivos não as devem ter menores porque a empresa pagou por isso.

Mas, no mundo onde a corrupção é apenas de quem é corrompido e a ditadura é -quando é – culpa dos ditadores, não dos que mamaram nas suas tetas, não é assim.

Quando o crime deixa de ser cometido porque “não dá mais” para prosseguir com ele, na ditadura ou na corrupção, podem crer, é só esperar que o tempo mude.

É assim para a Globo, talvez seja assim para a Odebrecht.

Fernando Brito, Tijolaço
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