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Luiz Pedro: Jackson vive

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Luiz Pedro

Conheci Jackson Lago em 1975. Ele iniciava um exitoso mandato de deputado estadual; eu fazia cobertura jornalística de política na Assembleia Legislativa. A simpatia foi mútua e imediata. Ligava-nos a preocupação com os problemas nacionais e maranhenses e uma visão segundo a qual a solução para esses problemas estava à esquerda do espectro político.

Luiz Pedro, Jackson Lago
Candidato a uma vaga na Assembleia, Luiz Pedro (E) foi chefe de gabinete de Jackson Lago
A confiança recíproca foi sendo conquistada pouco a pouco e, assim, poucos meses depois, Jackson me perguntava se eu lia espanhol e a resposta positiva fez com que ele me emprestasse um livro que entrara clandestinamente no País: El Modelo Peruano, do jornalista e ex-deputado federal maranhense Neiva Moreira, então uma pessoa considerada perigosa à segurança nacional e que, cassado pela ditadura militar, seguira para o exílio.

Fizemo-nos amigos. Ao final de seu mandato, Jackson me convidou para ser o editor-chefe de um jornal que serviria para denunciar os problemas econômico-sociais causados pelo regime ditatorial e os danos da política estadual, conivente com a grilagem de terras e a pistolagem que corria solta no interior do Estado. À frente de 'O Rumo' (este era o nome do jornal), fui processado com base na Lei de Segurança Nacional, pelas reportagens-denúncias que fizemos.

Naquele ano (1978), Jackson foi candidato a deputado federal. O PCdoB, na clandestinidade, recomendou voto para deputado federal em Jackson Lago e Freitas Diniz, outro combativo parlamentar, ambos então no PMDB. Seguindo a orientação do partido, fiz campanha e votei em Jackson. Ao final, Freitas teve cerca de 500 votos a mais do que Jackson. A vaga de deputado federal ficou com Freitas e Jackson obteve a primeira suplência.

O início de 1979 já encontrou Jackson indo a Portugal, onde ocorreu o Encontro dos Trabalhistas no Exílio e que decidiu pela criação do que viria a se tornar o PDT, herdeiro do velho PTB de Vargas, Goulart, Brizola, Pasqualini e Darcy Ribeiro.

A criação do PDT (e também a do PT) implodiu o bipartidarismo imposto pelo regime militar. Analisando o novo quadro, o PCdoB decidiu que seus militantes continuassem abrigados no PMDB, então símbolo da resistência à ditadura e não a colcha de retalhos de oportunismos regionais em que se transformou nos últimos quase 30 anos. Foi assim que, em 1982, mesmo pertencendo ao clandestino PCdoB, tive minha candidatura a deputado estadual homologada pelo PMDB.

De 1983 a início de 1987, exerci mandato de deputado estadual e, ao final do período, tanto Jackson quanto eu fomos derrotados como candidatos a deputado federal. Ele teve uma votação magnífica, principalmente em São Luís, o que lhe permitiu disputar com sucesso a Prefeitura de São Luís em 1988.

Tendo assumido o cargo de prefeito em janeiro de 1989, Jackson me chamou para compor sua administração. Sua generosidade me cumulou com diversos cargos que exerci em seus sucessivos mandatos à frente da Prefeitura da capital. Esse seu viés generoso novamente viria me agraciar, quando exerci o cargo de secretário-chefe de gabinete do governador, em seu breve período à frente do Governo do Estado.

Essa trajetória de Jackson Lago (que tive a oportunidade de compartilhar) revelou o surgimento e a consolidação de um líder oposicionista ímpar em nosso Estado. Forjado na luta e na convivência com os setores mais humildes da população, Jackson se agigantou e se transformou no desaguadouro do sentimento oposicionista maranhense.

Hoje, quando Flávio Dino assume a liderança das oposições e aparece nas pesquisas eleitorais como o mais provável nome para assumir em 2015 o Governo do Estado, o nome de Jackson é relembrado como personagem que, com sua presença e ação, abriu as portas para os acontecimentos atuais, como reconheceu Flávio Dino em seu próprio discurso na Convenção, que o sagrou candidato a governador.

As novas gerações avançam apoiadas no ombro das que lhes sucederam. Flávio Dino é o fruto de décadas de lutas contra o autoritarismo e a favor do aprofundamento da democracia e o resultado do sentimento anti-oligárquico do Maranhão. É, junto a tantos de nós, herdeiro do legado de Jackson Lago, legado que pretendo defender na Assembleia Legislativa.

Jackson vive e seu coração pulsa no compasso do Maranhão que haveremos de construir.

Nota do editor da Aldeia: Luiz Pedro é jornalista, exerceu dois mandatos de deputado estadual, foi secretário municipal de Comunicação e presidente da Fundação de Cultura de São Luís. No governo Jackson Lago foi secretário chefe de gabinete do governador.
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