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Sebastião Caracas compara São Luís de hoje e das décadas de 1940 e 1950

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No Repique dos Sinos

Sebastião Caracas

Ao ouvir o repique dos sinos senti-me feliz. Era o chamado para a última missa antes do entardecer. Mais tarde, já no meio da noite, as cornetas anunciavam o inicio das festas carnavalescas, chamadas bailes de máscaras, somente existentes na cidade de São Luís. Nunca havia visto e nem pensado em coisa igual. Estávamos em janeiro de 1946, há 66 anos. Tenho agora 85 anos de idade.

Apaixonei-me logo no primeiro encontro pela linda cidade colonial que acabara de conhecer. Os seus limites territoriais compreendiam o centro histórico – área da Praia Grande, onde se concentrava o comercio mais importante, subindo pela Rua Grande até um pouco mais acimado Canto da Viração.

Centro histórico de São Luis-MA, anos 1960
Destacavam-se nesse cenário: os sobrados ou casarões, moradas inteiras, meias moradas, portas e janelas, como eram conhecidos tais imóveis. Notava-se uma particularidade. Eram bem apresentáveis, conservando intocáveis suas características originais.

Conheci os bondes que circulavam em várias linhas, além de ser o único meio de transporte existente. Nunca deveriam ter sido retirados. Certamente, constituíram hoje um dos melhores e invejáveis motivos de atração turística.

Acho que as pessoas mais pobres viviam com dignidade. Toda a população tinha orgulho da terra e costumava dizer que se falava aqui o melhor português do Brasil.

A cidade era alegre e receptiva. Senti-me bem acolhido e na terra prometida. Instalamos a primeira revenda de automóveis e caminhões da cidade do Maranhão.

Minhas raízes se aprofundaram no solo maranhense e se consolidaram com o nascimento dos meus filhos, netos e bisnetos. Agora, como cidadão e gente da terra, fico a vontade para opinar, dar sugestões construtivas e reclamar o que não acho correto.

O meu desejo é ver São Luís como um espelho para o Brasil e para o mundo em termos de desenvolvimento, não somente na área econômica, más sobretudo socialmente.

Nas décadas de quarenta e cinquenta, não sei até por quanto tempo, vale a pena recordar, o município não contava com recursos do orçamento federal, mas mantinha os serviços essenciais. Vivia-se o estilo da economia doméstica. A cidade era graciosa. Mantinha sempre um bom aspecto. O seu povo parecia feliz, como se todos fizessem parte de uma mesma família.

A cidade cresceu desordenadamente. Sem nenhum planejamento, vieram juntos os problemas que parecem insolúveis, mesmo sabendo-se que existem recursos de todas as origens para todos os fins. Criaram-se vários órgãos especializados para compor a complexa administração municipal.

Economicamente a cidade teve um grande impulso, porém, na área social surgiram profundas desigualdades: é preciso despertar muita gente para ter ambição para crescer; para profissionalizar-se; para sentir o gosto do significado da cidadania, a fim de participar e usufruir dos benefícios do que pode proporcionar o momento atual que atravessa o Maranhão em termos de desenvolvimento.

Temos problemas no trânsito, na área de saúde, de segurança, saneamento básico, na educação, com focos de pobreza e miséria na periferia; mau comportamento de pessoas que frequentam praias, centro histórico e outros pontos turísticos; falta de orientação profissional para os jovens que concluem o ensino médio e não conseguem ingressar nas universidades; faltam políticas adequadas para um programa de reciclagem para o lixo nas vias públicas.

Com frequência gosto de encaminhar correspondência e dossiês às autoridades expondo tais problemas, mas as respostas não chegam ou são demoradas, sem demonstrarem soluções práticas.

Uma delas foi dirigida a Câmara Municipal, por sugestão de pessoas residentes na Praia do Olho D’água, há cerca de um ano. Solicitamos nos fosse indicado o nome de um vereador a quem pudéssemos nos dirigir para expor os problemas da área, Não tivemos nenhuma resposta.

Como é sabido, a Praia do Olho D’água que foi outrora cartão postal da cidade, exibida com orgulho aos visitantes e turistas, foi completamente abandonada, tornando-se terra de ninguém, onde impera a desordem e toda sorte de desatinos. Nenhum político coloca os pés nesse local a não ser carros de som na época de eleição.

Apreciamos ler os jornais e neles, diariamente, são comentados as ações dos nossos políticos. Os assuntos predominantes giram em torno de reeleições, eleições, mudanças de partidos, alianças, etc.

A opinião predominante, é de que não se fala, em momento algum, em soluções para os vários problemas de interesse da cidade e da população. Ao contrário, é exposto nas notícias somente a luta para a permanência nas posições políticas.

Achamos, e não é novidade, que a administração do município compete ao prefeito eleito, porém, com a colaboração de todos os vereadores na área legislativa. Entretanto, estes, deveriam estar atentos às necessidades da população em todos os bairros, mesmo não havendo voto distrital.

Pensávamos que sabíamos o que era ser vereador. Na verdade, não sabemos nada. Eram 21m más agora serão 31. Nunca vimos nada divulgado, sobre o que tanta gente produz ou irá produzir juntamente com algumas informações, para aclarar a nossa santa ignorância.

Eu e meus amigos sempre achamos que o cargo de vereador deveria ser ocupado por voluntários eleitos pelo voto direto da população, formando um grande conselho municipal, mantendo as prerrogativas que compete ao legislativo.

O vereador não teria, nesse caso, qualquer remuneração. Seria eleito como quem presta serviços, como é comum nas entidades representativas de classe ou nas de caráter assistencial, que existem aqui e em todas as cidades deste país.

Seria um trabalho patriótico necessitando de poucas horas semanais, para se resolver os problemas existentes, porém, sem remuneração, digno de louvor e aplaudido pela população. Assim, todos os bairros das cidades do interior e das capitais poderiam ter um representante legítimo nas cadeiras do legislativo municipal.

São desejos ardentes, ver os políticos e o eleitorado maranhense, juntos, irmanados dos mesmos propósitos, amando a terra. Assim, cidadania seria moda, nesta terra, certamente.

Dessa forma, seria possível transformar São Luís numa cidade padrão, ideal, organizada, limpa, civilizada, com gente qualificada, progredindo, podendo ser notícia corrente de todos os dias.

Nota do Editor: Sebastião Caracas é artista plástico e empresário do setor hoteleiro.
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