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"É comum morrer de asma na UTI?" Veja entrevista exclusiva de Flávio Dino ao Correio Braziliense

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Flávio Dino foi o segundo colocado na eleição para o governo do Maranhão
em 2010 e deixou de ir ao segundo turno por, apenas, 0,08% dos votos válidos
O Blogue do Frederico Luiz reproduz, na íntegra, a reportagem da edição de hoje do Correio Braziliense, página 25, caderno de Cidades, onde o presidente da Embratur, Flávio Dino, pela primeira vez, concede entrevista sobre a trágica morte de seu filho de 13 anos, Marcelo Dino.

por Saulo Araújo

Uma sucessão de erros tem chance de ter contribuído para a morte de Marcelo Dino. Um relatório escrito por uma das médicas que atendeu o estudante de 13 anos revela que não  havia profissionais habilitados na unidade de terapia intensiva (UTI) do Hospital Santa Lúcia quando o garoto passou mal. A Polícia Civil do DF investiga também a falta de aparelhos fundamentais para contornar as crises asmáticas do menino, além de apurar por que Marcelo foi levado, primeiramente para uma UTI adulta, e, horas depois, transferido para  uma unidade pediátrica sem equipamentos adequados para o tratamento.

O filho caçula do presidente do Instituto Brasileiro deTurismo (Embratur) e ex-deputado federal Flávio Dino (PCdoB-MA) morreu há 10 dias, após passar 18 horas internado na unidade de saúde, na 716 Sul. Flávio prestou depoimento ontem na 1ª Delegacia de Polícia (Asa Sul).

Reprodução da edição de hoje do Correio Braziliense
Ao fim da oitiva, que durou mais de quatro horas, ele conversou com a reportagem, pela primeira vez desde a perda do filho, sobre o trágico episódio que tirou a vida de Peixinho, como Marcelo era conhecido.

“Eles receberam o meu filho vivo e me entregaram morto”, desabafou (leia entrevista). O Correio também teve acesso ao parecer assinado por uma pediatra intensivista. No documento, ela narra desde o momento em que o adolescente chegou ao hospital, pouco depois das 12h, até a hora da morte, às 6h15 (leia fac símile). Num dos trechos, a médica confirma  que estava ausente da UTI na hora em que o estudante começou a apresentar dificuldades para respirar. “Fui chamada pela auxiliar para avaliar o Marcelo devido à queixa de desconforto respiratório”, escreveu.

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A profissional ratifica ainda a versão dos parentes, de que o jovem chegou estável e consciente ao centro clínico: “Marcelo se sentia bem até a hora em que foi medicado com  broncodilatadores, usados para controlar doenças que comprometem o aparelho respiratório. “Dormiu bem, mantendo os parâmetros respiratórios, sem desconforto”, atestou.

A partir daí, o quadro clínico se agravou. Os batimentos cardíacos, até então na casa dos 102bpm, baixaram drasticamente. O oxigênio se mantinha em 96%, mas despencou para 60%, minutos depois da aplicação do remédio. A gravidade do caso fez com que mais dois médicos entrassem na sala na tentativa de reanimar o menino, mas nem as sessões de massagens cardíacas, nemas 12 doses de adrenalina foram capazes de salvá-lo.

Marcelo morreu na frente  do pai e da mãe, a professora da Universidade de Brasília (UnB) Deane Maria Fonseca de Castro e Costa, que também prestou esclarecimentos à polícia ontem.

Negligência
O delegado-chefe da 1ª DP, Anderson Espíndola, apura ainda a denúncia de que um aparelho essencial para levar ar aos pulmões de Marcelo estaria danificado e teria sido trocado às pressas. “Todas as informações prestadas pelos familiares que estavam no hospital vão ser confrontadas com a versão apresentada pelos médicos. Se for preciso, vou pedir a ajuda de médicos do CRM (Conselho Regional de Medicina) para entender se a conduta dos profissionais atendeu ao protocolo”, explicou o investigador.

Os três médicos que participaram do atendimento a Marcelo deveriam prestar depoimento ontem à tarde, mas, a pedido do advogado do Hospital Santa Lúcia, as oitivas foram adiadas para a próxima semana. “Não podemos retirar três médicos de uma vez só do hospital. Se isso ocorrer, pode comprometer o tratamento dos pacientes”, justificou Frederico Donati Barbosa.

O defensor negou todas as denúncias feitas por familiares. Sobre a suposta ausência de um médico na UTI, respondeu: “A sala de descanso dos médicos fica ao lado da UTI. A enfermeira não teve de andar o hospital todo para chamá-la. Assim que foi comunicada, ela (a médica) atendeu prontamente o menino”. Os parentes alegam que o socorro demorou mais de cinco minutos.

Frederico garantiu que nenhum aparelho apresentava defeito na UTI, nem houve erro na manipulação dos medicamentos. “Não houve na nenhum problema de falta de pessoal, falta de aparelho ou equipamento danificado”, disse.

A 1ª DP investiga outra morte no Hospital Santa Lúcia por suposta negligência. O Instituto de Medicina Legal (IML) divulgou o resultado parcial do laudo que apura a causa da morte de Marcelo Dino. Nos exames clínicos, os legistas não conseguiram apontar com exatidão o que levou ao óbito do garoto. Outras amostras de fragmentos serão avaliadas em um exame histopatológico, que consiste em observar microscopicamente tecidos de órgãos do paciente, com o intuito de tirar as dúvidas em relação à morte. Esse novo procedimento deve ser concluído em uma semana

Apuração
A 1ª Delegacia de Polícia (Asa Sul) investiga a morte de uma fisioterapeuta de 28 anos, ocorrida há cerca de dois meses, também no Hospital Santa Lúcia. Juliana Araújo de Souza deu entrada no centro médico com vômito e diarreia. A família alega ter ocorrido negligência devido à suposta demora no atendimento realizado no fim da noite de 18 de dezembro do ano passado. Por volta das 7h do dia seguinte, ela morreu. Na certidão, a causa da morte foi atestada como “a esclarecer”.

Quatro perguntas para Flávio Dino,
presidente da Embratur e pai de Marcelo

Como o senhor tem acompanhado as investigações sobre a morte do seu filho?
Eu só quero que o (Hospital) Santa Lúcia responda a uma pergunta: é comum um garoto de 13 anos morrer de asma dentro de uma UTI? Se eles conseguirem provar por meio de estatísticas ou através da literatura médica que isso é normal, eu me calo. Mas o que eu tenho ouvido de vários profissionais é que o meu filho estaria vivo hoje se os procedimentos adotados fossem corretos. Se o Marcelo tivesse morrido dentro da escola, eu não iria responsabilizar a instituição de ensino, mas, dentro de um hospital e dentro de uma UTI, é inadmissível aceitar que uma criança morra dessa forma. Quero que o hospital,em respeito à memória do meu filho, diga o que ocorreu naquele dia, pois eles receberam o meu filho vivo e me entregaram morto.

O que leva a família a acreditar que houve erro da equipe médica?
Eu não classifico o que ocorreu como erro médico. Eu quero que a polícia investigue se houve um crime ou não. Até agora, o Santa Lúcia não me deu nenhuma explicação. Eles (gestores do hospital) fizeram uma reunião a portas fechadas e depois divulgaram para a imprensa uma nota omissa, que não diz nada. Eu passei o dia anterior inteiro andando de bicicleta com ele. Ele se comportava bem, com saúde. O que ele teve na escola foi uma crise como tantas outras, uma asma leve que sempre foi contornada sem maiores problemas.

O que o senhor viu antes da morte do Marcelo?
Eles aplicaram uma medicação no meu filho e, em seguida, ele começou a ter dificuldades para respirar. A médica demorou a chegar e o meu filho morreu. Sem contar que eles não fizeram a entubação no Marcelo quando ele começou a passar mal e, para piorar, ainda solicitaram material quando ele estava passando mal.

As últimas horas de Marcelo
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Fontes: Correio Braziliense e Sistema Info
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