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Médico: Infraestrutura ruim encarece terapias inócuas contra câncer

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Cada caso é um caso

por Riad Younes

Frase clássica ensinada nas faculdades de medicina, e repetida em cada consultório. Em cada hospital. Durante décadas, apesar desta "sabedoria médica" a maioria de nossos pacientes era tratada de forma semelhante, seguindo rotinas pré-estabelecidas. Em casos de câncer, isso era muito freqüente. Repetir a mesma "receita de bolo", dia após dia, caso após caso.

Os resultados são conhecidos de todos. Muitos dos pacientes apresentavam evolução comum. Para portadores de tumores malignos disseminados, avançados, com nódulos e metástases espalhados pelo corpo, as chances de resolução do problema não eram grandes. Mas, apesar destas observações, todos os médicos contavam, nos bastidores e nas reuniões científicas, situações anedóticas onde um paciente devia ter melhorado muito de sua doença, até se curado, mas não apresentou nenhuma resposta ao tratamento. Acabou falecendo da progressão de seu tumor. Por outro lado, outro doente portador de câncer agressivo, disseminado, que teve resposta inacreditável a tratamentos raramente eficazes. Parecia um milagre.

O que a ciência conseguiu fazer, na última década, foi estudar a fundo detalhes da estrutura íntima das células tumorais. De cada tumor. Também dissecou com precisão a interação possível entre o câncer e seu hospedeiro. O paciente. Destas pesquisas surgiram milhares, centenas de milhares de artigos científicos que identificaram um número crescente de substâncias, genes e moléculas, no tumor e no paciente, que distinguem um câncer de outro. Um doente de outro.

A partir destas descobertas, começou a corrida frenética para encontrar tratamentos que resolvem cada tipo e subtipo de tumor. Fazer a medicina individualizada. Personalizada. E hoje, isso não é mais ficção científica.

Estudos mais detalhadas realizados por serviços de patologia dos grandes centros médicos e oncológicos, no Brasil e no mundo, conseguem separar cada câncer de forma mais eficaz. Os tratamentos são desenhados hoje para adequar a cada doente seu melhor coquetel de remédios e técnicas, que oferecem as maiores chances e os menores efeitos colaterais. E a boa notícia, em nosso País, é que as técnicas para a detecção das características das células cancerosas já estão disponíveis. Não somente nos hospitais privados, mas também nos hospitais públicos ou aqueles conveniados com SUS. E isso deve ser exigido e oferecido para todo paciente com diagnóstico de tumor maligno.

De novo, como tudo no Brasil, ainda persistem instituições desprovidas do mínimo de infraestrutura. Isto eleva os custos financeiros, com gastos e tratamentos sem eficácia na maioria dos pacientes, e os custos em anos de vida e de saúde com doenças mal controladas. Centros regionais de referência em câncer se espalham pelo Brasil, tentando minimizar as diferenças locais de acesso à tecnologia. Afinal, todo paciente, rico ou pobre, tem o direito a um tratamento eficaz, apropriado para sua doença e adequado para sua situação. Cada caso é um caso. E para cada caso seu manejo e seu tratamento mais adequado.

Fonte: Terra Magazine

Nota do Blogueiro: Riad Younes é professor Livre Docente da Faculdade de Medicina da USP. Médico do Centro Avançado de Oncologia do Hospital São José e do Núcleo Avançado do Tórax do Hospital Sírio Libanês, São Paulo. Especialista em câncer de pulmão. Foi Diretor Clínico do Hospital Sírio Libanês de março 2007 a março 2011.
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